Movimentos Elementares: a base da nossa organização morfoestrutural
Descubra a importância dos movimentos elementares, como rastejar, engatinhar, acocorar, rolar, saltar, braquiar e correr para a saúde e o desenvolvimento humano. Muito além da infância, esses padrões de movimento são fundamentais para a organização morfoestrutural, fortalecimento dos tecidos ósseo, muscular, tendíneo, ligamentar, neurovascular, visceral, saúde articular e até mesmo para a prevenção de dores relacionadas ao sedentarismo.
9/6/20253 min read


Quando observamos o desenvolvimento de uma criança, percebemos que há uma sequência de movimentos naturais que servem como fundamentos para toda a organização corporal. Rastejar, engatinhar, acocorar, rolar, saltar, braquiar e correr não são apenas brincadeiras da infância, são padrões elementares que moldam a nossa estrutura, o nosso sistema nervoso e até mesmo a nossa maneira de nos relacionarmos com o ambiente.
Muitos adultos, ao longo da vida, acabam deixando esses movimentos de lado. No entanto, eles permanecem como se estivessem adormecidos, capazes de restaurar funções perdidas, melhorar a organização morfoestrutural, resgatar a força, eficiência e vitalidade.
O papel de cada movimento
Rastejar
É um dos primeiros movimentos em locomoção do desenvolvimento humano. Ao rastejar pelo chão, a criança já apresenta um nível de amadurecimento cerebral importantíssimo nos primeiros meses de vida, além disso, a organização da coluna desenvolve boa sustentação da cabeça e a sincronia entre membros superiores e inferiores. No adulto, resgatar o rastejar pode ser uma poderosa ferramenta de reabilitação, especialmente para melhorar a organização das estruturas físicas e restabelecer as suas funções.
Engatinhar
É um movimento onde a criança começa a sustentar o seu peso nos braços e pernas, sem o apoio do tronco no chão, amplia o seu campo de visão para explorar o ambiente, a sua volta, integra braços, pernas e olhos, promovendo conexões cerebrais essenciais para as próximas fases do desenvolvimento. É um movimento que estimula a percepção espacial e a contralateralidade, base para tarefas como ler, escrever e o desenvolvimento de novas habilidades físicas mais adiante.
Acocorar
Uma posição natural que vem se perdendo na sociedade moderna. Acocorar é essencial para preservar a amplitude de movimento dos quadris, joelhos, tornozelos e coluna vertebral. Ela também é indispensável para realização de tarefas quotidianas e de transferência de um movimento para o outro, em diversas atividades, a preservação das funções viscerais também precisa ser considerada, pois, interfere beneficamente na pressão intra-abdominal. Recuperar essa habilidade é crucial para manter articulações saudáveis e um bom funcionamento visceral.
Rolar
O rolar conecta o eixo central do tronco com os braços e pernas, além disso, ajuda na orientação espacial da cabeça beneficiando o sistema vestibular, visão e organização da região cervicotorácica, serve para transições suaves entre posições e sequências de movimento que aprimoram a percepção corporal. É um movimento que vai do simples ao mais complexo e é de grande impacto para novas conexões neuronais.
Saltar
O salto não é apenas uma mera brincadeira de infância, e tão pouco deve ser deixado de lado depois que crescemos. Particularmente, considero essa ação elementar crucial para o desenvolvimento de ossos e articulações verdadeiramente saudáveis, pois o impacto que ocorre durante a aterrissagem tem papel fundamental na remodelação óssea, em todas as fases da vida.
Braquiar
Esta ação de mover-se pendurado pelas mãos, suspenso do chão é algo que os macacos fazem naturalmente e que as crianças, quando têm a oportunidade, adoram explorar essa habilidade em parquinhos. A braquiação tem um papel crucial no amadurecimento neurológico da criança e também do adulto. Ao integrar o movimento de alcance dos braços com o tronco e o ajuste fino da coordenação olho-mão, a braquiação contribui diretamente para a organização das curvaturas da coluna e para a eficiência global do movimento. Além disso, fortalece a cintura escapular, os ombros e as mãos, enquanto expande os espaços entre as costelas, favorecendo uma respiração mais ampla e eficiente.
Correr
A corrida é um movimento elementar e universal do ser humano, presente desde a infância e sustentado por milhões de anos de evolução. Do ponto de vista da morfofuncionalidade humana, a corrida atua como um estímulo mecânico poderoso para o osso, fortalecendo a sua estrutura e reorganizando as suas linhas de força conforme descrito pela Lei de Wolff. Além disso, ativa a sincronia entre membros inferiores e tronco, aprimora a organização morfoestrutural e amplia a eficiência cardiovascular e respiratória.
Por que resgatar esses movimentos?
Esses padrões não são “infantis”: eles são elementares, ou seja, pertencem à base da motricidade humana. Resgatá-los na vida adulta:
Melhora a amplitude do movimento.
Fortalece as estruturas musculares, ósseas e articulares.
Reorganiza a morfoestrutura.
Aumenta a propriocepção corporal.
Reduz dores associadas ao sedentarismo e má organização postural.
Em contextos de reabilitação, revisitar esses movimentos é parte fundamental do processo de recuperação, respeitando a coerência do desenvolvimento humano.
Rastejar, engatinhar, acocorar, rolar, saltar, braquiar e correr formam a base do movimento humano. São gestos fundamentais que moldaram a nossa evolução e continuam sendo indispensáveis para o desenvolvimento da força, eficiência e da boa organização morfoestrutural.
Ao praticarmos esses movimentos, não estamos apenas mobilizando as articulações, estamos estimulando a inteligência física, refinando conexões neuronais e resgatando uma forma autêntica de movimentação humana.
Bárbara Dias - Fisioterapeuta