Preguiça de se movimentar? Talvez não seja o que você pensa

A sensação de “preguiça” muitas vezes não tem a ver com falta de força de vontade, mas sim com desconexão do movimento natural, sobrecarregado por tarefas diárias e preso a exercícios pouco funcionais. A ciência mostra que a inatividade afeta não só músculos e articulações, mas também o cérebro, a energia e até a saúde visceral. Movimentos simples, como sentar e levantar do chão, caminhar descalço, variar posturas e incluir microtreino de movimento em sua rotina, são capazes de reativar a lubrificação articular, estimular a circulação, fortalecer os ossos e restaurar vitalidade. Não é preguiça, é um sinal para você resgatar a natureza do movimento humano em pequenas doses, com atenção e progressividade, para recuperar saúde, energia e confiança.

9/28/20253 min read

Muitas vezes, aquilo que chamamos de preguiça não é preguiça, é consequência de padrões de vida, de crenças e de estruturas corporais indiferentes ao movimento natural. O ser humano evoluiu para se mover de formas variadas e quando essas possibilidades ficam limitadas, ficamos menos aptos para realizar movimentos, e isso gera sensação de cansaço, inércia e de “não querer sair do sofá”.


O que a ciência e a literatura já mostram

1. O valor do movimento variado e natural

No livro The Practice of Natural Movement (Erwan Le Corre, 2019), há uma forte crítica ao modo como muitos exercícios são artificiais, repetitivos e fragmentados. Le Corre propõe voltar a movimentos fundamentais — correr, saltar, escalar, rastejar — para trazer de volta a vitalidade. Link do livro para compra: https://amzn.to/3KqExjJ

Em Born to Walk: Myofascial Efficiency and the Body in Movement (James Earls, edição revisada), enfatiza que, quando ficamos inativos ou presos a máquinas de academia, perdemos essa fluidez do movimento natural. Link do livro para compra:. https://amzn.to/46BEgDn

2. Estudos com idosos: mobilidade, bem-estar e saúde cognitiva

Um artigo recente publicado em European Review of Aging and Physical Activity (Hommen et al., 2024) investigou padrões de iniciação da marcha (gait initiation) em idosos com diferentes estágios de fragilidade. Eles encontraram que quanto mais fragilizados, mais dificuldade para iniciar o movimento, menor uso de forças de base como reação ao solo, ativação muscular e coordenação. Isso mostra que a inatividade compromete não só a energia percebida, mas também os circuitos motores básicos. Link do artigo: BioMed Central

Outro estudo de BMC Geriatrics de 2023, “Challenges and opportunity in mobility among older adults – key determinant identification”, analisa como restrições de mobilidade aparecem cedo no processo de envelhecimento, causando limitações nas tarefas simples do dia a dia, gerando medo, evitamento de movimento, que por sua vez alimentam mais inatividade. Link do artigo: BioMed Central

Também “Associations between Mobility, Cognition, and Brain Structure in Healthy Older Adults” investigou a correlação entre mobilidade física (andar, equilíbrio, levantar da cadeira) e funcionamento cognitivo (funções executivas, velocidade de processamento). Os resultados apontaram que idosos com melhor mobilidade têm melhor saúde cerebral. Link do artigo: PubMed

Principais motivos pelos quais dizemos que temos “preguiça”

Com base em literatura e experiência clínica, podemos identificar alguns fatores:

Desconexão com os movimento elementares (natural)

Exercícios convencionais muitas vezes não engajam as estruturas e os sistemas corporais adequadamente, assim como as atividades usadas no cotidiano. Movimentos naturais, variações de terreno, variação dos pontos de apoio no chão, tudo isso é ignorado. Quando estamos acostumados a nos mover somente de forma limitada, movimentos mais complexos se tornam desconfortáveis.

Efeito da inatividade acumulada

Ficar parado reduz a capacidade de transmissão de força através dos tecidos, diminui lubrificação articular, reduz circulação, gera rigidez tecidual e faz cada novo movimento parecer mais “pesado”. É um ciclo: inatividade → menos eficiência → mais esforço percebido para cada ato simples.

Sobrecarga mental e emocional


O desgaste do dia a dia, o excesso de informações e de tarefas, trabalho, responsabilidades sociais e preocupações consome energia física e mental. Muitas vezes não sobra “espaço” para inserir uma boa prática de movimento, e com isso, ficamos cada vez mais sedentário.

Falta de compreensão do que é movimento saudável


A ideia de “exercício” muitas vezes chega como algo muito formal e exigente. Não ter clareza sobre movimentos mais simples ou reconectar com movimentos naturais pode gerar resistência, porque parece algo ridículo, difícil, cansativo, desnecessário ou fora do alcance.

O que fazer: pequenos ciclos de movimentos e resgate da natureza em se mover com qualidade

  • Aqui vão práticas e estratégias baseadas em estudos e experiências que podem ajudar:

  • Inserir pequenos ciclos de movimento natural ao longo do dia: levantar e sentar do chão, rolar, equilibrar-se sobre um pé, variações de posturais no trabalho, caminhar descalço em superfícies diferentes.

  • Dar importância aos movimentos verdadeiramente funcionais diariamente: sentar, levantar, acocorar, subir escadas, correr, pular, tudo isso ativa as articulações, os ossos, a circulação, a saúde visceral e a propriocepção.

  • Estimular o aspecto cognitivo: incluir desafios, como, por exemplo, aprender um novo movimento por semana, mudar a sequência dos movimentos que você já tem facilidade de fazer.

Conclusão

A sensação de “preguiça” muitas vezes é interpretada de maneira errada por parte de quem perdeu contato com o movimento. Quando retomamos movimentos elementares, naturais, com atenção, integração e progressividade, resgatamos a energia, a saúde física, a autoconfiança e o bem-estar.

Não precisamos, e nem devemos esperar estar “motivados” para começar a se mover adequadamente, podemos agir em doses pequenas, contínuas até se reconectar com os fundamentos do movimento e se permitir realizar o que é possível e evoluir progressivamente.

Bárbara Dias - Fisioterapeuta